Neste sábado (1º), o Jornal O Dia completa 74 anos. Ao longo de mais de sete décadas, o impresso passou por diferentes eras da comunicação e acompanhou gerações com hábitos distintos de consumo de informação. As mudanças e transformações sociais e geracionais ao longo do tempo impactaram o processo de produção das notícias. Se antes a produção dependia de processos manuais e demorados, hoje a agilidade e a tecnologia ditam o ritmo da informação.
"Se analisarmos o século XXI, vemos uma mudança radical na produção jornalística. Até o final dos anos 80 e início dos anos 90, o jornalismo era fortemente influenciado pela opinião, pois os jornalistas muitas vezes eram também intelectuais e políticos", explica a professora Nilsângela Cardoso.
Dois editores do jornal O Dia, Marco Vilarinho e João Magalhães, viveram essa evolução e contam como a rotina mudou. Vilar, que trabalha no O Dia há 27 anos, lembra como a produção de notícias era um trabalho artesanal. “No final dos 90, não havia pauta. A gente ia para a rua e tinha a obrigação de fazer cerca de quatro matérias. Saíamos para descobrir o que era notícia. Nós éramos aconselhados a ouvir a rádio para sabermos assuntos. A gente mesmo se pautava”, lembra.
Ele, que começou como repórter e seguiu como editor do jornal, lembra que, na época, o jornalismo era mais literário e descritivo. Não existia internet, e os repórteres faziam todas as pesquisas em arquivos públicos ou bibliotecas da cidade.
A chegada dos computadores, da internet e a criação do Portal O Dia trouxeram mudanças significativas no processo de apuração e escrita das matérias. João Magalhães, editor que entrou no jornal como repórter em 2014 e assumiu a posição de editor em 2018, presenciou uma transformação radical nesse cenário. Quando começou, ainda vivia o jornalismo tradicional, focado no impresso, onde a notícia era trabalhada com mais tempo e profundidade. Mas com o avanço das tecnologias e a necessidade de estar presente em multiplataformas, o trabalho evoluiu.
João explica que, no início de sua trajetória, o jornalismo era voltado exclusivamente para o impresso. "Quando eu era repórter, eu só escrevia para o jornal. Minhas matérias nem iam para o portal", lembra ele. A grande mudança, segundo João, foi a transição para a era digital, onde os repórteres passaram a produzir conteúdo diretamente para o portal. “Hoje, a equipe de repórteres é voltada para o portal, e a principal função do editor é pegar o conteúdo feito para a internet e transformá-lo para o jornal impresso", diz ele.
Essa transição trouxe desafios. Se antes o editor apenas ajustava um texto para o impresso, hoje ele lida com o inverso: precisa adaptar os textos curtos e rápidos produzidos para a internet - onde a agilidade é essencial - para o formato do jornal. João ressalta que as matérias no portal são longas, e a tarefa do editor é reduzir o conteúdo, mantendo a essência da informação, sem perder a qualidade. "No jornal, o espaço é limitado, então a gente sempre faz essa redução", explica João.
Do ponto de vista jornalístico, João reconhece que a mudança também veio para se ajustar à demanda do público.
João também comenta sobre a importância de se ouvir o público. Ele destaca que, no passado, o jornal não tinha a mesma interação com os leitores, mas, com o advento das mídias sociais e a interação online, isso mudou. "O jornalismo não é mais feito apenas na redação, ele precisa ouvir o leitor. Isso tem sido uma mudança importante", afirma.
O editor reflete ainda a relevância contínua do jornal impresso para a produção acadêmica, devido à sua credibilidade histórica. Para ele, o jornal impresso mantém essa característica de confiança mesmo após sua transição para o digital. “Muitas pessoas ainda buscam o jornal impresso para trabalhos e produções acadêmicas, pois, de certa forma, é um veículo que a população considera mais confiável do que o digital", afirma João.
Por fim, ele acredita que o futuro do jornal impresso não está em disputar a atenção dos mais jovens, mas sim em manter a fidelidade do público que ainda o consome. "O impresso tem um público fiel. As pessoas leem jornal porque gostam. Existe uma afetividade. Talvez o sucesso do O Dia esteja em manter esse público e seguir se adaptando", conclui João.
O futuro do impresso
Assim como o rádio sobreviveu à chegada da TV e o próprio jornal impresso encontrou novos formatos na era digital, há espaço para a adaptação. O Dia é um exemplo disso: segue firme como o único impresso do Piauí, mas já expandiu sua presença para o digital, garantindo que sua audiência possa acessá-lo em diferentes plataformas.
Para a professora Nilsângela Cardoso, apesar da digitalização, há um movimento crescente entre os jovens que redescobrem formatos antes considerados ultrapassados. “Alguns tipos de mídias que desapareceram do mercado estão voltando, mas agora com a denominação de ‘vintage’, que ressignifica seu valor. A longo prazo, acredito que o impresso pode recuperar sua relevância, coexistindo com os dispositivos móveis e assumindo um novo papel na sociedade.”
A especialista destaca que, para que a geração Z se conecte com o impresso, é preciso oferecer as ferramentas certas. "Não podemos esperar que eles se interessem pelo impresso se não proporcionarmos esse acesso. A mudança nos hábitos e a adaptação dos jornais a esse público podem ajudar a garantir a sobrevivência do impresso", afirma.
O futuro do jornalismo pode não estar apenas na tela, mas na capacidade de reinventar-se. Em qualquer formato, o jornal mantém sua essência: conectar pessoas aos fatos, às histórias e à sociedade em constante mudança.
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