Nos últimos 23 anos, a capital do Piauí teve uma grande perda em sua área verde, equivalente a cinco mil campos de futebol. O dado foi apresentado na Conferência do Clima de Teresina, que ocorreu em maio deste ano. Esse verde desapareceu de praças, canteiros, parques e, principalmente, dos quintais.
Para resgatar o título de cidade verde, pertencente a Teresina há quase duas décadas, está sendo colocado em prática o Plano de Arborização Urbana, que visa compensar essa perda das áreas verdes. Assim, estima-se que seja necessário o plantio de, pelo menos, 1,5 milhão de árvores em diversas zonas da capital. O plantio deverá ser iniciado em 2024 e a conclusão prevista em 20 anos. No primeiro ano, sugere-se o plantio de 15 mil mudas somente em vias e praças públicas, especialmente nos bairros mais afetados.
Do total de mudas, 338.912 serão plantadas em vias públicas, 4.988 em praças públicas, 56.154 em áreas verdes e 1.050.147 em áreas de preservação permanente. Além disso, a Prefeitura tem incentivado que a população plante mais árvores em seus imóveis, ajudando a manter a tradição de quintais mais arborizados.
“Temos feito uma campanha para o resgate da biodiversidade e das árvores nativas. O teresinense também pode plantar árvores frutíferas, como a mangueira, o cajueiro, a romã, mas também as ervas medicinais, como a cidreira, o mastruz, e hortaliças, enquanto o plantio de árvores nativas vai se dar nos parques, praças e logradouros públicos. Infelizmente, Teresina já perdeu, há alguns anos, o título de ‘cidade verde’ devido a perda de sua cobertura vegetal, enquanto outras cidades avançaram. Teresina precisa entender que perdeu área verde e precisa resgatá-la Precisamos esverdear a cidade através de florestas urbanas”, ressalta Leonardo Madeira.
O analista ambiental reforça que o projeto dos quintais verdes propõe, não somente resgatar a tradição de vínculo entre os teresinenses e seus quintais, como ajudar a amenizar a temperatura de Teresina. “O plano de ação climática, infelizmente, mostra que a tendência é de elevação na temperatura, que deve aumentar ainda mais e, o único instrumento para resfriar a cidade, é a árvore. Perdemos uma cobertura vegetal importante dentro dos lotes e dos quintais, especialmente devido à especulação imobiliária, e isso tem nos preocupado, porque mostra um distanciamento do homem e da natureza, o que é prejudicial”, conclui.
Quintal de vó: esverdeando Teresina com florestas urbanas
Árvores frutíferas, medicinais e hortaliças. Crianças correndo e subindo em árvores. Sombra para descansar e balançar na rede. Os quintais têm a magia de conectar as pessoas à família e à natureza, acolhendo e transformando esse espaço em um local de relaxamento, como uma espécie de escape da agitação da vida cotidiana. Por muitos anos, os quintais foram verdadeiros parques de diversão para a criançada e acumulavam inúmeras espécies de plantas. Com o passar dos anos, as áreas verdes foram diminuindo, sendo substituídas por espaços de lazer com piscinas e pouco jardim.
Feliz é quem ainda preserva espaços verdes em casa, como a aposentada Raimunda Moreira Soares da Silva (85), que tem orgulho em manter em sua residência diversas árvores frutíferas, como pés de manga, caju, acerola, limão, laranja, amora, mamão e ata. Ela mora nessa casa há 58 anos e foi onde criou seus sete filhos. Hoje, o quintal serve para os netos brincarem, terem contato com as árvores e com os animais que ali passam, como passarinhos e borboletas. Tirar as plantas para cimentar o quintal ou construir uma área de lazer não está em seus planos.
Por muitos anos, dona Raimunda criou galinhas em seu quintal, o que era uma diversão para os netos, que costumavam brincar com os animais. Além disso, as aves também colocavam ovos que alimentavam a família, que não precisava comprar esse alimento. Após o falecimento de seu esposo, a família começou a se desfazer das galinhas e, hoje, o galinheiro localizado no fundo do quintal é usado para guardar ferramentas.
Histórias que ela costuma relembrar enquanto faz a rega das plantas, seus netos brincam embaixo das sombras das árvores. Um quintal de vó que acolhe a quarta geração. “O quintal une a família. Quando vejo, são todos aqui, de uma vez. Amo receber meus filhos e ter todos juntos”, diz dona Raimunda emocionada.
"Ver a filha brincando entre as árvores e correndo com os primos pelo quintal da bisavó traz à enfermeira Thayná Soares (28) um sentimento de liberdade e nostalgia, especialmente porque ela não teve muitas oportunidades de vivenciar o mesmo em sua infância. Ao longo de sua vida, cresceu em espaços com árvores, mas também com concreto, assim como Maria Cecília, que mora em uma casa, mas sem muito espaço aberto.
“Moramos em uma casa com quintal pequeno e todo no cimento. Sempre vivi em casa toda cimentada. Hoje, ter a oportunidade de trazer minha filha para brincar no quintal da bisavó com os primos, em meio às árvores e pé na areia, é muito satisfatório”, complementa Thayná Soares.
Quintais modernos: áreas de lazer preservam o verde
Manter uma área verde em casa requer alguns investimentos, tanto financeiro como do tempo de quem cuidar. E, diferente do que muitos pensam, é possível, sim, ter um espaço de lazer arborizado e que proporcione contato com a natureza. Para quem não quer abrir mão do seu quintal e da diversidade de plantas que podem ser cultivadas, mas também busca um espaço aconchegante em sua residência, a orientação da arquiteta Gabriela Fernandes é contar com a ajuda de um profissional que faça um levantando da área e como ela pode ser melhor aproveitada.
“Antes do projeto arquitetônico da área de lazer ser feito, é interessante fazer um levantamento topográfico do terreno, para que seja feito o mapeamento da vegetação nativa e de como ela pode ser preservada. Ou seja, é possível construir uma casa ou uma área de lazer ao redor dessas árvores que desejam ser mantidas. Quintais lembram muito a casa de vó, com memórias afetivas da infância”, comenta.
Quem busca uma área de lazer, certamente a deseja visando conforto, especialmente nos dias de descanso. Os quintais possibilitam o contato com a natureza e despertam sensações sensoriais, como relaxamento e bem-estar.
Manter árvores em casa exige cuidados e, um deles, está relacionado ao controle de pragas, como a infestação de cupins. Para evitar que o inseto se prolifere e comprometa a estrutura da residência, a arquiteta recomenda o tratamento dessa madeira.
“As pessoas cortam as mangueiras porque geralmente esse tipo de árvore atrai cupim, que pode entrar no madeiramento do telhado. Por isso é importante fazer o tratamento dessa madeira do telhado, ao invés de tirar a árvore. Outra solução para evitar os cupins é construir a casa com o pau d’arco, madeira mais resistente a esse inseto. Existem alternativas, não precisa derrubar as árvores”, conclui a arquiteta Gabriela Fernandes.
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