Quando a arte e a história se misturam, elas têm o poder de nos fazer voltar no tempo. Estar rodeado de artefatos que os antigos usavam traz um sentimento misto de nostalgia e pertencimento. Em Teresina, essa sensação pode ser vivenciada no Museu Dom Avelar Brandão Vilela, que em uma imponente estrutura entre as casas do bairro Cristo Rei, na zona Sul da capital, guarda memórias do nosso passado e perspectivas para o nosso futuro.
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O museu, parte integrante da Fundação Cultural Cristo Rei (FCCR), tem sua história iniciada em 9 de dezembro de 1971 com a criação do Centro de Cultura Amoipirá. Idealizado pelo padre jesuíta italiano Pedro Biondan Maione, que chegou ao Brasil em 1964 e foi o primeiro pároco da Paróquia do Cristo Rei, o centro foi o embrião de um movimento cultural que plantou as primeiras sementes para a formação de bibliotecas e acervos que eventualmente deram origem ao Museu Dom Avelar.
Quem conta melhor essa história é a diretora do museu, Mônica Mendes. “O museu é fruto do sonho e da idealização do Padre Pedro, que veio a Teresina para ser professor no Colégio de Diocesano. Logo ao chegar aqui, ele começou a dar assistência espiritual no local que hoje é o bairro Cristo Rei, e foi convidado pelo Bispo Dom Avelar a ser o primeiro pároco da recém-criada paróquia”, explica.
Padre Pedro, um colecionador desde os sete anos de idade, trouxe suas coleções de moedas, selos e minérios da Itália. Em 1990, um prédio específico foi inaugurado para abrigar as peças.
Desde então, o local tem desenvolvido diversos trabalhos sociais e culturais, e em 2019 passou por uma reforma através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o que resultou em um prédio com uma belíssima arquitetura.
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Museu conta com mais de 20 mil objetos catalogados
De pinturas egípcias em papiros a fragmentos de antigos monumentos de Roma, o museu atualmente conta com mais de 20 mil objetos catalogados, distribuídos em coleções variadas. A coleção de moedas e medalhas, por exemplo, possui 14.800 peças que vão desde o período pré-cristão até os dias atuais, incluindo moedas de diversos países como Brasil, Vaticano, países do leste europeu, Ásia, Américas e África. Além disso, há coleções de conchas de moluscos, mineralogia, taxidermia, fósseis, arqueologia e arte popular mundial.
“Ao longo dos anos, o Padre Pedro conseguiu esses artefatos através de doações e aquisições. Ele morou em vários países. Em 1991, por exemplo, ele foi enviado pelo Papa João Paulo II para a Albânia, em uma missão, e ficou três anos lá. Quando voltou, trouxe diversos artefatos para compor o acervo do museu. Hoje temos uma coleção bem variada e diversa. Em nossa coleção de moedas, há peças muito antigas e, inclusive, de antes de Cristo. Há moedas que vêm desde o período colonial até os dias atuais, passando por todas as fases de colônia e república”, destaca Mônica.
Além das exposições, o Museu Dom Avelar abriga uma biblioteca e um laboratório de arqueologia, sendo credenciado pelo IPHAN como instituição de guarda definitiva de material arqueológico. Isso atrai pesquisadores e estudantes, especialmente aqueles em fase de mestrado e doutorado. Em 2023, a fundação trabalhou, inclusive, com educação patrimonial, promovendo palestras e oficinas em escolas públicas.
“São livros antigos datados do século 18 e 19. Temos desde a literatura clássica à mais moderna, com obras diversificadas, incluindo autores piauienses, brasileiros e internacionais”, comenta Mônica.
Segundo a diretora do museu, a visitação no local é diversificada, com pessoas vindo de outros estados e países, especialmente durante o período escolar e nas férias, quando turistas são mais frequentes. O valor da entrada é apenas R$ 4. “Nossa visitação é bastante variada. Recebemos muita visita de estudantes, especialmente de escolas públicas, até mesmo do interior do estado, como Demerval Lobão, Parnaíba, Campo Maior e Altos”, acrescenta.
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Projeto Museu Literário incentiva leitura entre os mais novos
Um dos projetos sociais mais recentes da fundação é o Museu Literário, que visa estimular a literatura, a leitura e as artes entre as crianças. O projeto oferece atividades lúdicas e cognitivas, oficinas literárias e artísticas, e culmina com a publicação de um livro com as histórias e desenhos das crianças.
Para participar, basta ser um estudante, do primeiro ao quinto ano, matriculado na rede pública de ensino do bairro Cristo Rei ou redondeza. As crianças ficam de segunda a sexta-feira, no período da tarde. “No começo do ano, os pais vêm renovar a matrícula dos seus filhos, e sempre temos alunos novos. Aqui, a lista de espera é grande”, ressalta.
A fundação trabalha com projetos sociais como esse há mais de 28 anos. “São projetos muito importantes para estimular a criatividade e a leitura”, complementa.
Irradiação de cultura e memória
Apesar de seu vasto acervo e importância cultural, o museu ainda é pouco conhecido pela população local. Quem passa em frente ao local, admira sua grandiosa fachada, mas muitas vezes não para para entrar. Para Mônica, o local é um espaço de irradiação de cultura que precisa e merece ser valorizado pelas pessoas que aqui vivem.
“Qualquer cidade precisa de espaços como esses. Nossa programação é bem variada e inclui rodas de conversas, bate-papos e oficinas. É um centro cultural e está disponível para os moradores da cidade e do estado”, conclui.