A defesa da senhora Lucélia Maria da Conceição Silva, 54 anos, que foi acusada pela polícia de envenenar duas crianças em Parnaíba, questionou o processo de investigação e disse que o inquérito foi baseado em provas fracas e deficitárias. Lucélia teve sua liberdade provisória concedida pela Justiça hoje (13) após passar cinco meses presa. A soltura veio após a perícia constatar que os cajus ingeridos por João Miguel e Ulisses Gabriel não estavam envenenados. As frutas haviam sido doadas aos dois por Lucélia.
Em conversa com o Portalodia.com o advogado Sammai Cavalcante, que faz a defesa de Lucélia, diz que o processo todo se baseou em provas deficientes. O advogado questionou a demora de cinco meses para que os cajus fossem periciados e diz que isso só aconteceu por causa da prisão de Francisco de Assis Pereira, padrasto da mãe das crianças, o que levantou uma nova suspeição de autoria no caso.
“Não é que houve erro. Acredito que a polícia tenha se esforçado. Mas quanto ao procedimento policial, eu acho que houve déficit na investigação. Ela podia ter sido muito mais aprofundada. A perícia dos cajus só foi anexada nos autos na quinta-feira passada, sendo que minha cliente já se encontra presa desde agosto. O prejuízo de ordem moral e psicológica é muito grande. Desde o primeiro momento havia um enredo factual que seria completamente sem razão”, afirma Sammai.
Para o advogado, as provas inquisitórias coletadas ao longo da investigação não tinham robustez. O veneno encontrado na casa de Lucélia, e que era o mesmo achado no organismo dos meninos envenenados, é uma substância que, segundo a defesa, será encontrada em praticamente todas as casas daquela região. “São casas simples localizadas em uma região que tem sim muitas pragas como ratos, cupins e que demandam esse tipo de substância para serem combatidas. É comum os moradores terem esse tipo de veneno em casa. É uma substância que todo mundo tem e infelizmente é de fácil acesso”, explica Sammai.
“Está bastante abalada psicologicamente”
Sammai Cavalcante já esteve com Lucélia após a decisão da justiça de liberá-la e disse que ela se encontra bastante abalada psicologicamente, sobretudo pela incerteza de como será sua vida daqui em diante. A casa onde ela vivia foi incendiada por populares, revoltados com as acusações feitas contra ela à época do ocorrido. Questionado sobre a possibilidade de mover um processo contra o Estado por danos morais, o advogado diz que ainda é cedo para falar sobre isso.
A defesa prefere aguardar o trânsito em julgado do processo e a absolvição completa de Lucélia para estudar que ações podem ser tomadas no sentido de amenizar os danos causados a ela.
“A verdade está gritando para ser ouvida. Se criou essa situação em cima da dona Lucélia. Se você começa a olhar para o acusado com um olhar de culpa, você vai achar elementos que o levem a isso, a atribuir culpa. Eu sempre discordei do oferecimento da denúncia, eu sempre descordei dessa investigação. Com todo o respeito ao delegado, às autoridades judiciárias. Não tem nada a ver com eles, mas com o processo. Isso não teria acontecido se tivessem se atentado ao fato e não tivessem atirado a primeira pedra. Mas foram além. Atiraram a primeira, incendiaram a casa dela e prenderam”, finaliza Sammai Cavalcante.
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Lucélia Maria da Conceição deve ser solta ainda hoje (13). A Secretaria de Justiça aguarda apenas a expedição do alvará de soltura pelo Tribunal para liberá-la. Lucélia ainda vai cumprir medidas cautelares, porque o processo segue em andamento, mas sua defesa trabalha para que haja absolvição sumária de todas as acusações. A audiência de instrução e julgamento dela está prevista para acontecer no dia 23 de janeiro em Parnaíba.
A reportagem do Portalodia.com procurou a Polícia Civil para se pronunciar sobre as alegações da defesa de Lucélia. Por meio de sua assessoria, a delegacia-geral disse que não vai mais se manifestar, apenas a Secretaria de Segurança. Procurada, a Secretaria de Segurança disse que também não vai se pronunciar.
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