A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quinta-feira (25), a Operação “Vigilância Aproximada”, que investiga um suposto esquema de monitoramento ilegal de autoridades públicas e cidadãos comuns na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
LEIA TAMBÉM
Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido no gabinete e no apartamento funcional da Câmara do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin durante o governo Bolsonaro, entre julho de 2019 e março de 2022.
O crime, conforme as investigações, consistia no uso de ferramentas de geolocalização em dispositivos móveis (celulares e tablets) sem autorização judicial e sem conhecimento dos próprios monitorados.
A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Segundo a PF, outras medidas alternativas à prisão foram realizadas, como a suspensão imediata de sete policiais federais suspeitos de envolvimento com o monitoramento ilegal.
No total, a PF cumpriu 21 mandados de busca e apreensão: 18 em Brasília (DF), um em Juiz de Fora (MG), um em São João del Rei (MG) e um no Rio de Janeiro (RJ).
Ferramenta de espionagem
A ação policial é um desdobramento da operação “Primeira Milha”, iniciada em outubro de 2023 para investigar o suposto uso criminoso da ferramenta de espionagem “FirstMile”, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, revelado em março do ano passado pelo jornal O Globo.
Após a denúncia do uso do sistema, a Abin confirmou que utilizou a tecnologia comprada no fim do governo Michel Temer (MDB), a poucos dias da posse de Jair Bolsonaro (PL), e empregada pela agência até meados do terceiro ano de mandato do ex-presidente.
Quem é Alexandre Ramagem?
O ex-diretor-geral da Abin alvo de buscas da PF, Alexandre Ramagem, foi delegado da Polícia Federal, corporação para a qual entrou em 2005. Chefiou a equipe de segurança de Bolsonaro na campanha à presidência da República em 2018, depois do atentado a faca sofrido pelo então candidato em Juiz de Fora.
No início da gestão do ex-presidente, em março de 2019, Ramagem foi nomeado assessor do então ministro Santos Cruz na Secretaria de Governo e mantido no órgão quando Luiz Eduardo Ramos substituiu o titular anterior da pasta federal quatro meses depois.
Em abril de 2020, o ex-delegado foi escolhido por Bolsonaro para comandar a Polícia Federal no lugar de Maurício Valeixo, demitido em meio ao rompimento entre o então chefe do Executivo e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (União Brasil).
Horas antes da cerimônia de posse, porém, o ministro do STF Alexandre de Moraes atendeu a uma ação movida pelo PDT e suspendeu a nomeação por alegação de interferência política na PF.
No mês seguinte, Ramagem assumiu a direção-geral da Abin, onde permaneceu até 2022, quando se elegeu deputado federal, pelo PL do Rio de Janeiro, com 59 mil votos. É pré-candidato à prefeitura do Rio e conta com o apoio de Bolsonaro.