O Palácio da Cidade, onde funciona a sede da Prefeitura de Teresina, capital do Piauí, é uma das edificações mais antigas do município, com 102 anos. O início de construção data de 1919, e sua inauguração ocorreu em 1922. O edifício neoclássico possui inspiração grego-romana, com escadarias e luminárias em sua entrada, cuja fachada exibe uma balaustrada superior e colunas Jônicas, com balaústres também nas suas janelas.
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Antes de se tornar a sede do poder executivo municipal, o Palácio da Cidade era usado como um centro educacional, em meados da década de 1950. Mas, para entender melhor esse momento, é necessário voltar cem anos e compreender o contexto da época. Em 1835, o Brasil passava por um processo educacional, com a criação da Escola Normal em todo o país.
A Escola Normal era basicamente destinada a mulheres e a principal função era formar professoras que lecionassem nas primeiras letras, ou seja, dessem aula para o ensino primário, já que nos outros ensinos não era permitido, pelos governos, que mulheres dessem aula.
Assim como nos demais estados, o Piauí também recebeu uma sede da Escola Normal. A instalação da unidade chega ao solo teresinense em 1864, apenas 12 anos após a fundação de Teresina, em 1852. Sem local para funcionar, as aulas eram ministradas em casas simples, sem grande estrutura e de maneira precária. Entretanto, como a capital piauiense ainda era muito recente e não havia pessoas capacitadas para lecionar, a Escola Normal acabou fechando. O mesmo ocorreu em outras cidades e estados da federação.
Após 45 anos, em 1909, a Escola Normal é recriada novamente no Piauí, funcionando em casas de pessoas ou em prédios alugados, já que ainda não tinha uma sede própria. A proposta de recriar a Escola Normal em Teresina foi de Antonino Freire, governador do Estado na época.
Com sua arquitetura imponente, a sede da Escola Normal se destacava no centro da cidade, que ainda pouco possuía prédios, e ficava em frente a uma das primeiras construções erguidas em Teresina: o Mercado São José, ou Mercado Central. Hoje, os dois imponentes prédios públicos ficam escondidos entre as árvores centenárias na Praça da Bandeira - que já recebeu nomes como Praça da Constituição, Praça Marechal Deodoro da Fonseca, Praça do Largo, Do Amparo, entre outros -. O prédio se tornou sede da Prefeitura Municipal em 1984, quando o edifício foi reformado pelo arquiteto Acácio Gil Borsoi.
“O Palácio da Cidade tem uma arquitetura muito arrojada. Há relatos de que pessoas de outros estados, como do Pará, tiveram que vir para Teresina construí-lo, pois não havia mão de obra de engenheiros e pedreiros capacitados para fazer um prédio dessa magnitude. Na terceira década do século passado, o Palácio destoava de todas as construções que existiam em Teresina, devido sua singularidade”, ressalta o professor.
Por se tratar de uma cidade relativamente nova, Teresina possuía poucos prédios e imóveis, permitindo que, do alto do Palácio, fosse possível ter uma visão privilegiada da capital. Mas a vantagem não era apreciada por todos. No documentário “Cidade Descarnada”, produzido pelo historiador Ricardo Arraes, são apresentadas algumas curiosidades, como a proibição das alunas da Escola Normal olharem pela janela.
É importante lembrar que a Escola Normal marcou um momento importante na vida política de Teresina. Naquela época, três grandes escolas foram criadas quase que simultaneamente da capital: a Escola Normal, que era laica e seguia os preceitos republicanos, de que as escolas não deviam professar a religião; o Colégio das Irmãs, para meninas, e o Colégio Diocesano, para meninos, ambas escolas confessionais.
“Eram três escolas que não dialogavam, uma para menino, outra para menina e a Escola Normal, que era laica e mantida pelo governo do Estado com apoio dos maçons, que eram divergentes da Igreja Católica. Era um cenário turbulento, de uma luta ideológica em uma cidade muito pequena”, complementou Ricardo Arraes.
Preservação do patrimônio
Com mais de 100 anos de construção, o Palácio da Cidade, que hoje funciona como sede da Prefeitura de Teresina, já sofreu inúmeras modificações em sua estrutura. Para o historiador e professor Ricardo Arraes, uma perda irreparável para a preservação da história e da memória da capital.
“Teresina é uma cidade que tem pouca preocupação com a preservação dos prédios mais antigos e com a arquitetura original dos primeiros 100 anos da história da capital. Ficaram de pé, basicamente, os prédios públicos que funcionam como autarquias ou igrejas. As casas, ou foram demolidas, ou tiveram suas fachadas completamente modificadas, e os órgãos responsáveis pela preservação e conservação fizeram vistas grossas. Teresina foi praticamente toda derrubada. É urgente que esse prédio centenário, que tem uma grande relevância histórica, cultural e social, permaneça em pé”, assinala o professor e historiador Ricardo Arraes.
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