A greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Teresina começou oficialmente nesta segunda-feira (12), mas segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Rodoviário do Estado do Piauí, o impacto para a população já vem sendo sentido há bastante tempo.
“Uma greve com 80% da frota não é greve. É o que já está rodando diariamente”, afirmou o presidente do Sintetro, Antônio Cardoso. De acordo com ele, a decisão da Justiça do Trabalho, que determina a circulação de 80% da frota nos horários de pico e 40% nos entrepicos, na prática, apenas oficializa uma situação que já acontece há muito tempo, sem qualquer paralisação.

“A desembargadora determinou que rodasse 80%, mas 80% é o que o Setut já vinha botando como normal. A Strans emite uma escala de 100% da frota que não é obedecida”, completou.
De acordo com o Sintetro, irregularidades como fraudes nas viagens de pico são recorrentes. “Tem empresa que faz uma viagem até o centro com passageiros, desliga o letreiro e volta vazia. Depois faz mais uma vindo do bairro. Quando na realidade teria que fazer duas viagens completas”, denunciou Cardoso.

Setut afirma que greve descumpre decisão judicial
Do lado patronal, a advogada do Setut (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina), Naira Morais, rebateu as declarações. Ela informou que, nesta manhã, o número de veículos circulando esteve bem abaixo do determinado pela Justiça. “Entre 5h e 8h da manhã, muitos trabalhadores não compareceram às garagens. No entrepico, às 10h, deveriam estar rodando ao menos 108 veículos, mas identificamos menos de 23 via GPS”, disse.
A advogada ainda pontuou que os reajustes solicitados pelo sindicato são “desproporcionais diante da realidade do setor”, citando que a inflação acumulada do último ano ficou abaixo de 5%, enquanto as reivindicações ultrapassariam 50% de impacto financeiro. “Estamos diante de um sistema já fragilizado por uma perda de mais de 70% de passageiros nos últimos anos. O empresário quer garantir a circulação e, só depois, discutir a convenção coletiva”, afirmou.

Morais reforçou que o Setut está informando ao Tribunal Regional do Trabalho o descumprimento da decisão judicial e que há uma multa diária prevista de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
Strans cadastra veículos alternativos e pede diálogo
Para tentar reduzir o impacto da greve, a Strans iniciou ainda no fim de semana o cadastramento emergencial de ônibus e vans particulares, que devem operar temporariamente no transporte da cidade. Segundo o superintendente Carlos Daniel, até sábado, 40 veículos haviam sido cadastrados
“Estamos colocando nas ruas os veículos que se cadastraram para rodar. A população deve pagar a passagem em dinheiro, pois esses veículos não têm catraca eletrônica”, explicou.

O diretor de Transportes Públicos da Strans, Adriano Barreto, afirmou que os veículos estão sendo posicionados nas áreas de maior demanda. “Queremos garantir que a população não fique desassistida. Os carros cadastrados recebem identificação, como placas ou cartazes com destino.”
O Sintetro, por sua vez, denunciou a falta de fiscalização por parte da Strans quanto a ônibus particulares que, em alguns casos, cobram tarifas acima do permitido e não têm estrutura para atender cadeirantes e pessoas com direito à gratuidade.
“Esses veículos que estão circulando não têm rampa, não aceitam gratuidade. O transporte irregular, mesmo, atende cadeirantes. Quem deveria resolver isso é o poder público, que não tem compromisso com a população nem com os trabalhadores”, criticou.
Sobre a greve, Carlos Daniel defendeu o diálogo: “A prefeitura tenta participar das conversas, mas parece haver um ponto de ruptura. A mediação precisa continuar para evitar mais prejuízos à população.”
Conflito se arrasta
A greve foi deflagrada após impasses na negociação entre trabalhadores, empresas e poder público. A categoria pede reajuste salarial, além de melhorias no ticket-alimentação e auxílio-saúde. Segundo Cardoso, a proposta apresentada pelo Setut “não contempla nenhum reajuste real”.
“A proposta que nos foi apresentada veio sem reajuste e a categoria não aceitou. A gente pede desculpa à população, mas a greve será mantida”, disse.

O presidente do Sintetro ainda destacou a precarização das condições de trabalho vivenciadas pelos motoristas e cobradores. “São 1.200 colaboradores. Temos muitos trabalhadores afastados por problemas de saúde e muitos estão passando por dificuldades”.
Antônio Cardoso reforça que o movimento é legítimo e a adesão dos trabalhadores é alta. “Nenhum trabalhador é obrigado a trabalhar durante uma greve. A adesão é voluntária e 100% da categoria decidiu parar”, finaliza.
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