O fenômeno climático El Niño deve persistir até abril de 2024, é o que aponta a organização meteorológico mundial (OMM). O evento tem influência significativa no panorama climático global. O desenvolvimento do El Niño ao longo de 2023 e sua possível intensificação no primeiro semestre de 2024 vem levantando implicações, principalmente em relação ao aumento da temperatura.
O climatologista Werton Costa comenta que o El Niño é conhecido no Nordeste por ter uma relação direta com a supressão, ou seja, extinção da água, principal ativo da região. Essa ocorrência foi registrada, de maneira intensa, em 1996 e 1997, e em 2015 e 2016. Entretanto, em 2023, a mudança climática chamou atenção de especialistas e pesquisadores.
“Nós temos hoje uma combinação extremamente perversa para a agricultura: o El Niño, que é um fenômeno que tende a suprimir a entrada do canal de umidade, e as mudanças climáticas. O resultado disso é que, as temperaturas que já eram elevadas no El Niño, são potencializadas. E o volume de chuvas, que já é suprimido, também é potencializado. Isso dá margem, a algo extremamente perigoso, do ponto de vista do risco, pois embora possa diminuir a chuva e aumentar o calor, esta combinação proporciona a formação de eventos severos ou extremos, ou seja, seca extrema acompanhada de chuva extrema, muito danoso para a sociedade”, pontua Werton Costa.
As ondas de calor e os tornados no Hemisfério Norte são fenômenos ocasionados devido atuação El Niño, já no Brasil, foram registrados episódios severos, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. “Não ouvíamos falar em ondas de calor em anos anteriores, era um fenômeno muito pontual. A onda de calor é sinal de que realmente nós devemos nos preocupar”, enfatiza o climatologista.
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Impacto na agricultura
O impacto desses fenômenos climáticos são ainda mais intensos e perceptíveis na agricultura. Nesse segmento pesa um grande impacto financeiro, sobretudo pelos maquinários, mãos de obra, consultorias agronômicas, sementes e grãos geneticamente modificados, entre outros insumos tecnológicos que impulsionam o setor.
Werton Conta acrescenta que essa atividade econômica depende de um trio essencial: água, sol e solo. Se algum desses fatores sofrer alteração, a produção será significativamente comprometida. O climatologista explica que, atualmente, não há um estudo que balize os possíveis efeitos das mudanças climáticas sobre o agro e a agricultura familiar.
“[Não temos, mas] isso é algo para ontem. Já existe uma preocupação governamental em relação ao impacto, tanto deste El Niño como das mudanças em relação às safras vindouras. O IFPI tem uma linha de pesquisa ótima em relação à gestão ambiental; a Ciência Agronômica da UFPI e da UESPI podem trabalhar nesse sentido. Precisamos pensar em estratégias de adaptação, porque o nosso estado é fortemente dependente da atividade agropastoril, gera muitos empregos, o sustento de muitas famílias da agricultura familiar. Existem muitos municípios que a receita vem da transferência federal ou é agricultura”, reforça o climatologista.
El Niño em 2024
Apesar dos inúmeros impactos e rastros que o El Niño deixou no Brasil e no Mundo este ano, seu ciclo deve encerrar entre abril e maio de 2024. Os grandes centros de pesquisa já discutem o retorno precoce da La Niña, responsável pela chuva. Porém, chama-se atenção para o volume acima da média, que pode causar prejuízos às cidades sem estrutura.
Por isso, faz-se necessário que o poder público, tanto em âmbito municipal, estadual e federal, invistam no monitoramento desses fenômenos, assim como em sistemas de alerta e em infraestrutura de drenagem, sobretudo nas cidades que não possuem estrutura hídrica adequada.
“Não podemos descartar episódios severos que podem provocar situações de transtorno localizado. Da mesma forma que a escassez de chuva provoca um prejuízo, o excesso também, não somente na agricultura, mas em surtos de doenças, desabrigando pessoas, colapso de infraestrutura devido o rompimento de rodovia, dificuldade de mobilidade das pessoas, entre outros”, salienta Werton Costa.
Aumento de temperatura
Há alguns anos, o Instituto de Meteorologia observou que as médias de temperaturas e chuvas não coincidiam com o que, de fato, eram medidas. Isso também é sentido e percebido pela população, que tem em suas lembranças, períodos chuvosos e épocas de temperaturas amenas e elevadas. Fatores como emissão de gases poluentes e o desmatamento contribuem para as mudanças atuais.
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“Existe um incremento de aumento de temperatura, que afeta a vida e a saúde das pessoas, a mobilidade, economia e precisamos criar ferramentas para lidar com essas situações. São políticas públicas que precisam estar alinhadas com essas mudanças, que o gestor público compreenda os impactos que essas mudanças têm, não somente agora, mas nos próximos anos. Costumamos ficar preocupados com a chuva forte, mas a seca grave é um mal silencioso. Ela chega e maltrata devagar”, comenta o climatologista Werton Costa.