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Numismática: o valor histórico e econômico das moedas antigas

A prática de colecionar moedas remonta à Roma antiga, onde imperadores e aristocratas as reuniam como símbolos de status e poder.

30/07/2024 às 14h37

30/07/2024 às 14h42

À medida que o dinheiro digital ganha cada vez mais espaço em nossas vidas, as cédulas e moedas físicas estão se tornando cada vez mais raras em nossas carteiras. Em meio à constante digitalização e às transações virtuais, é comum encontrarmos pessoas que não carregam mais dinheiro físico. No entanto, essas peças, que gradualmente estão sendo substituídas, têm muito mais a revelar do que imaginamos.

O que é a numismática? - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
O que é a numismática?

Apesar da crescente prevalência das tecnologias digitais, há quem ainda valorize a beleza do dinheiro físico. Esses entusiastas são os numismatas, praticantes da numismática, uma ciência que pesquisa, estuda e coleciona moedas e notas antigas. Para eles, cada peça revela aspectos da história, da economia e da cultura que moldaram a sociedade ao longo dos anos.

A prática de colecionar moedas remonta à Roma antiga, onde imperadores e aristocratas começaram a reunir moedas de diferentes períodos e regiões como símbolos de status e poder. Todavia, foi no século XVIII que a numismática começou a se consolidar como uma ciência formal. O avanço na catalogação e na publicação de livros sobre moedas antigas ajudou a estruturar a prática. As primeiras obras de referência, muitas vezes produzidas na Europa, ofereceram uma maneira sistemática de classificar e estudar moedas, o que facilitou a pesquisa e a troca de informações entre colecionadores e estudiosos.

A prática de colecionar moedas remonta à Roma antiga - (Emelly Alves/ODIA) Emelly Alves/ODIA
A prática de colecionar moedas remonta à Roma antiga

O século XIX marcou um ponto de virada na numismática, com a criação de museus e sociedades especializadas que promoviam a pesquisa e a coleção de moedas. Essa era viu o surgimento de instituições dedicadas à preservação e ao estudo de moedas, como a American Numismatic Society (fundada em 1858) e a British Numismatic Society (fundada em 1903). Essas organizações ajudaram a legitimar a numismática como uma disciplina acadêmica e promoveram a troca de conhecimentos entre especialistas.

No século XX, a numismática continuou a se expandir e incorporou novas técnicas de conservação e análise. O advento da tecnologia também trouxe inovações, como a digitalização de acervos e a utilização de métodos científicos para autenticação e estudo de moedas. Em Teresina, o Museu Dom Avelar Vilela guarda uma coleção de mais de 14 mil moedas e medalhas antigas, que vão desde o período pré-cristão até os dias atuais, incluindo moedas de diversos países como Brasil, Vaticano, países do leste europeu, Ásia, Américas e África.

Museu Dom Avelar, em Teresina, conta com coleção de mais de 14 mil moedas - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Museu Dom Avelar, em Teresina, conta com coleção de mais de 14 mil moedas

O que torna uma moeda valiosa?

Ao longo da história monetária do Brasil, diversas moedas e cédulas foram emitidas. Durante o período colonial, o país utilizava principalmente o réis. Também circulavam patacas, especialmente em regiões colonizadas pelos portugueses. Na República Velha, que começou em 1889, o mil-réis substituiu o réis. Com a chegada da Era do Cruzeiro, em 1930, a moeda foi substituída pelo cruzeiro.

A partir de 1994, o real foi introduzido para substituir o cruzeiro real. A primeira família do real incluía cédulas de R$ 1, R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100. Recentemente, o Banco Central do Brasil anunciou que as primeiras notas de real emitidas no país sairão de circulação. Apesar da retirada dessas notas de circulação, elas continuarão válidas e podem ainda ser usadas normalmente. Para os colecionadores, a notícia é boa, afinal, quando as células saem de circulação, seu valor histórico aumenta.

Ao longo da história monetária do Brasil, diversas moedas e cédulas foram emitidas - (Emelly Alves/ODIA) Emelly Alves/ODIA
Ao longo da história monetária do Brasil, diversas moedas e cédulas foram emitidas

A fim de compreender os critérios que definem o valor histórico e econômico de uma moeda antiga, o Jornal O Dia conversou com Francisco Barboza, um experiente numismata de 74 anos e proprietário da Numismática Barboza, situada na Av. Antonino Freire, no Centro de Teresina. Com mais de 20 anos de atuação na área, ele explica que o valor de uma moeda pode variar significativamente de acordo com seu estado de conservação.

“Às vezes, a mesma moeda pode ter um valor diferente dependendo de seu estado. Se não estiver bem conservada, pode valer apenas um real ou 50 centavos. Porém, se estiver em ótimo estado, seu valor pode subir bastante. Uma moeda, em diferentes estados de conservação, pode valer de um a cem reais".

Francisco BarbozaNumismata
Francisco Barboza, numismata  - (Emelly Alves/ODIA) Emelly Alves/ODIA
Francisco Barboza, numismata

Além do estado de conservação, outros fatores influenciam o valor de uma moeda, como a sua raridade e a demanda do mercado. “As moedas que mais valorizam são as de réis e outras peças raras. A assinatura, a série e outros detalhes também são importantes. Moedas com erros de impressão ou que são parte de edições limitadas podem alcançar valores muito altos”, disse.

Entre as peças que Francisco coleciona destacam-se os réís, além de cédulas e moedas do cruzeiro real brasileiro. Seu Barboza enfatiza que, ao longo dos anos, adquiriu muitas dessas peças de diferentes fontes e que, embora algumas já tenham sido vendidas, ele ainda possui muitas delas em seu acervo.

“A maior finalidade deste trabalho é a perseveração da cultura. A gente passa a mostrar aquilo que ficou para trás e que ninguém conhece ou lembra”, acrescenta.

Entre as peças que Francisco coleciona destacam-se os réís, além de cédulas e moedas do cruzeiro  - (Emelly Alves/ODIA) Emelly Alves/ODIA
Entre as peças que Francisco coleciona destacam-se os réís, além de cédulas e moedas do cruzeiro

As técnicas de conservação das moedas e cédulas incluem o armazenamento adequado, que deve ser feito em caixas específicas para numismática ou álbuns de polipropileno e Mylar, materiais que não reagem com as peças. Manusear moedas e cédulas apenas com luvas de algodão ajuda a evitar a transferência de óleos naturais e sujeira da pele, além de minimizar o contato direto com a superfície das peças, o que pode causar arranhões e danos.

“Manter uma moeda em bom estado é difícil. É preciso evitar o contato com outras moedas e manuseá-las com cuidado. A conservação correta pode fazer toda a diferença no valor final da peça”, apontou. 

Benefícios da numismática

Além de ser uma atividade educativa, a numismática oferece uma série de benefícios. Ela estimula o aprendizado sobre história e cultura e pode ser um investimento financeiro, com algumas peças raras valorizando-se com o tempo. Em entrevista ao O Dia, o professor José Mendes, de 60 anos, destaca que a numismática permite conhecer a história através das moedas. Colecionador há mais de 30 anos, ele se diz ser um apaixonado por patacões, uma das primeiras moedas utilizadas no país. 

“Antes eu gostava de colecionar revistas. Em um dia qualquer, eu passeando pelas bancas de revistas, encontrei um catálogo de moeda, e isso me despertou interesse. Já tive coleções de vários tipos, mas hoje trabalho especificamente com os patacões, e tenho mais de mil moedas”, afirma. 

José Mendes, colecionador de moedas - (Emelly Alves/ODIA) Emelly Alves/ODIA
José Mendes, colecionador de moedas

Quando perguntado sobre as moedas de maior valor no mercado, Mendes explica que as moedas brasileiras mais valiosas são as de ouro, mas há também moedas de prata que alcançam altos preços. Algumas moedas chegam a valer mais de R$ 500. 

“As moedas retratam momentos importantes da história, como a situação econômica e as figuras históricas da época. Cada moeda tem uma história para contar”, finaliza José. 

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