No Brasil, o mercado de apostas online tem crescido de forma exponencial. Em 2023, a indústria movimentou entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões, e as projeções para 2024 indicam um possível aumento para até R$ 130 bilhões, conforme estudo da Strategy&. A regulamentação das casas de apostas no país já atraiu o interesse de grandes emissoras de televisão, como Globo, SBT e Band, que estão se preparando para entrar nesse mercado.
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As apostas, regulamentadas pela Lei 13.756 de 2018, estão divididas em apostas legais e ilegais, sendo estas últimas associadas a jogos populares como o “tigrinho”. Com as novas regulamentações previstas para entrar em vigor até o início de 2025, o mercado das ‘bets’ deve crescer ainda mais.
No entanto, essa expansão não vem sem seus riscos. A promessa de ganhos rápidos oferecida pelas apostas pode se transformar em um problema sério para muitos indivíduos, especialmente quando o ato de apostar se torna um vício, algo que tem se tornado uma preocupação crescente no país.
O vício em apostas é impulsionado por uma combinação de fatores psicológicos, sociais e neurológicos. Uma das principais razões para esse tipo de vício é a busca por recompensas rápidas. “Nosso país vê as apostas como algo lúdico e natural, em que o perder faz parte da prática dos jogos. Se torna patológico de fato quando observamos a frequência e observamos quantos jogos a pessoa faz por dia”, explica a psicóloga Samira Leão.
A promessa de ganhos fáceis e imediatos é extremamente atraente e cria um ciclo de expectativa e recompensa que é difícil de romper. A emoção e a adrenalina associadas ao ato de apostar, bem como à expectativa do resultado, podem se tornar viciantes. O aumento da dopamina e do cortisol durante as apostas gera uma sensação de euforia que reforça o comportamento. Por conta disso, há pessoas que vendem tudo o que tem para continuar apostando.
O comportamento compulsivo também está presente. Algumas pessoas recorrem às apostas como uma forma de escapar de problemas pessoais, estresse ou insatisfação com a vida. Apostar pode servir como uma distração ou um meio de lidar com emoções negativas, criando um ciclo de dependência.
Alan Rodrigues, um ambulante que reside em Teresina, é um exemplo desse fenômeno. Ele participa de apostas esportivas diariamente. “Eu participo de um grupo em que pago R$ 30. Quase todos os dias tem aposta, inclusive, já fiz uma hoje. Eu sou viciado nisso, não sei por quê”, diz ele, comentando que, em uma das oportunidades, usou os ganhos para quitar o seu carro.
O “efeito do acerto” é uma explicação para a dificuldade de Alan em reconhecer seu vício. A experiência de ganhar, mesmo que ocasionalmente, pode reforçar a crença de que ganhar é mais comum do que realmente é. Esse sentimento pode levar Alan a continuar apostando na esperança de repetir a vitória, mesmo que ele esteja perdendo mais do que ganhando. Assim, a emoção do jogo e a promessa de recompensas rápidas mantêm Alan preso em um ciclo de apostas, apesar de ele não entender completamente por que se sente compelido a apostar diariamente.
A facilidade de acesso às plataformas de apostas online é um fator adicional. A possibilidade de apostar a qualquer hora e em qualquer lugar torna a atividade mais disponível e conveniente.
Quais são as consequências do vício em apostar?
O vício em jogos, sejam apostas esportivas ou outro tipo de plataformas, pode causar uma série de consequências psicológicas. Uma das principais consequências é a ansiedade elevada. A constante preocupação com o resultado das apostas e o medo de perder dinheiro frequentemente levam a níveis elevados de ansiedade. Essa ansiedade pode se manifestar como nervosismo constante, insônia e dificuldade em relaxar.
Além disso, o vício em jogos pode resultar em depressão. Sentimentos de desesperança e tristeza profunda são comuns, especialmente quando as perdas financeiras acumuladas criam uma sensação de fracasso ou desamparo. A pressão para recuperar essas perdas pode agravar esses sentimentos, o que leva a um quadro depressivo ainda mais intenso.
Comprometimento da concentração e produtividade é outra consequência associada ao vício. Apostadores compulsivos geralmente enfrentam dificuldades em se concentrar no trabalho ou em outras atividades diárias. A obsessão com jogos e apostas reduz a produtividade e afeta o desempenho profissional.
Como tratar o vício em apostas?
O tratamento do vício em apostas é um processo complexo que geralmente requer uma abordagem multifacetada. Segundo a psicóloga, o primeiro passo para tratar o problema é a identificação do vício e do padrão de comportamento. “A mudança de comportamento vem com a mudança de cognição,” recomenda Leão.
Buscar ajuda profissional é necessário. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem comum que ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento relacionados às apostas.
Em alguns casos, o tratamento farmacológico pode ser necessário para lidar com sintomas associados ao vício, como depressão ou ansiedade. Medicamentos devem ser prescritos e monitorados por um profissional de saúde para garantir a eficácia e segurança do tratamento.
Desenvolver habilidades de enfrentamento é uma parte importante do processo. Técnicas de relaxamento, mindfulness e estratégias de resolução de problemas podem ajudar a lidar com os gatilhos que levam às apostas e reduzir o estresse que pode contribuir para o vício.
Outro dica é envolver-se em hobbies, esportes e atividades sociais para proporcionar novas fontes de prazer e satisfação.
O apoio da família e dos amigos também é extremamente importante durante o tratamento. Ter uma rede de suporte pode fornecer motivação adicional e ajuda a manter o foco no processo de recuperação.
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