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Mudanças climáticas expõem vulnerabilidade da população de rua em Teresina

Em 2024, um levantamento realizado pela Pastoral do Povo de Rua, apontou que Teresina teve um crescimento de 100% no número de pessoas em situação de rua. No Brasil, conforme dados da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgados neste ano, a população de rua aumentou 25%. A situação se torna ainda mais grave com as mudanças climáticas, como frio ou calor extremos, que intensificam as dificuldades enfrentadas por essa população vulnerável.

Assis Fernandes / O Dia
Pessoas em situação de rua na Praça Pedro II

No Piauí, chuvas fortes têm atingido diversas cidades, incluindo Picos, Uruçuí e Santa Cruz do Piauí, que enfrentam enchentes severas. Em Teresina, a realidade não é diferente: as áreas de alagamentos, recorrentes em todos anos, afetam principalmente as periferias, com casos recentes de mortes, desabrigados e prejuízos em várias comunidades.

O padre João Paulo, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, destacou as causas do aumento da população em situação de rua, como os efeitos ainda presentes da pandemia de Covid-19, o desemprego e o uso abusivo de álcool e drogas. Ele também apontou para a invisibilidade que essas pessoas enfrentam.

Divulgação redes sociais
Padre João Paulo, da Pastoral do Povo de Rua.

“A Pastoral do Povo de Rua está atenta a essas situações de aumento de desigualdade social. Para este grupo específico, fica mais evidente a falta de empatia social. Esses nossos irmãos são invisíveis para a sociedade, para o poder público e, muitas vezes, até para as igrejas”, declarou.

Segundo o padre, os dados do levantamento foram coletados a partir de cadastros no Centro POP, consultórios de rua e no Cadastro Único (CadÚnico). Ele explicou que, durante períodos de chuvas intensas ou calor extremo, a demanda por abrigos e casas terapêuticas aumenta significativamente.

“Nossa casa abrigo de qualificação profissional para pessoas em situação de rua está superlotada devido à grande procura neste período de chuvas. Por isso, estamos em campanha para conseguir mais camas, colchões e contratar funcionários qualificados para oferecer acolhimento digno a essas pessoas”, relatou.

Ele também destacou as dificuldades enfrentadas pela Pastoral, como a ausência de recursos para atender às demandas. Em 2020, uma lei estadual foi criada para proteger a população de rua, mas ainda não foi votado orçamento para sua execução.

“Precisamos de recursos para ampliar e criar novos abrigos, além de oferecer cursos profissionalizantes para reinserir essas pessoas na sociedade e no mercado de trabalho. Queremos o apoio do poder público estadual e municipal para fazer valer essa lei e defender a população de rua”, finalizou o padre.

Com o início das chuvas em Teresina, a prefeitura criou um comitê de crise para administrar os impactos das enchentes e reduzir danos nas áreas mais afetadas. O comitê envolve as Superintendências de Desenvolvimento Urbano (SDUs), a Defesa Civil, a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi) e a Strans.

A secretária da Semcaspi, Eliane Nogueira, destacou, em entrevista ao Jornal O Dia, o planejamento para ações emergenciais voltadas à população em situação de rua.

Divulgação redes sociais
Eliane Nogueira, secretária da Semcaspi.

“No caso da Semcaspi, além do monitoramento junto à Defesa Civil e demais entidades, oferecemos acolhimento em unidades de lar temporário da prefeitura, além de suporte básico com cestas básicas, kits de limpeza, kits de higiene e o kit de acolhimento no primeiro contato após o cadastro na SDU da região afetada pelas chuvas. Estamos em constante monitoramento e planejamento para uma abordagem rápida e eficaz.”

Eliane também informou que a secretaria tem disponibilizado espaços para a população de rua, como o Centro POP e a Casa do Caminho, que oferecem assistência psicológica, serviços de saúde e apoio social, além de acesso ao Restaurante Popular de Teresina.

Assis Fernandes / O Dia
Sede do Centro POP em Teresina.

“A Semcaspi tem atuado para assegurar os direitos e o acesso das pessoas em situação de rua a serviços básicos e condições mais dignas, mas também trabalha para incentivar o protagonismo e a inserção social e no mercado de trabalho”, acrescentou.

Ela destacou ainda a oferta de um auxílio financeiro de R$ 300,00 para famílias desabrigadas devido às chuvas, incêndios ou outras situações de vulnerabilidade, além de programas como o Minha Casa, Minha Vida, coordenados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh).

A gestão municipal planeja descentralizar os serviços de apoio, ampliando a oferta de centros de acolhimento em várias regiões da cidade, buscando reduzir o número de pessoas em situação de rua.

Especialistas apontam que o crescimento da população de rua em Teresina acompanha o aumento do número de casas e prédios ociosos no centro da capital. A falta de políticas habitacionais que aproveitem esses espaços contribui para a manutenção do problema. Dados da UFMG indicam que sete em cada dez pessoas em situação de rua não concluíram o ensino fundamental, enquanto 11% são analfabetos, dificultando o acesso a oportunidades de trabalho.

É urgente que políticas públicas não sejam apenas assistenciais, mas garantam estabilidade financeira e social, promovendo a reinserção dessas pessoas na sociedade de forma sustentável.


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