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Esvaziamento de Centro de Teresina afasta moradores, consumidores e lojistas

Quem anda pelas ruas do Centro de Teresina já deve ter presenciado dezena de pontos comerciais fechados e imóveis abandonados. Com a área comercial cada vez menor, muitas pessoas têm deixado de frequentar a região central da cidade. Diante desses esvaziamento e pouca movimentação de pedestres e veículos, surge outra problemática; a sensação de insegurança. Essa sequência de acontecimentos faz com o Centro de Teresina, o mais importante polo comercial da cidade, sinta o impacto de baixas vendas, do fechamento de lojas e da migração de empreendimentos para outras zonas.

Assis Fernandes/O Dia
Esvaziamento de Centro de Teresina afasta moradores, consumidores e lojistas

Gerardo Fonseca, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-PI), explica que essa problemática também ocorre em outros centros urbanos do país, logo, não se trata de uma realidade exclusiva de Teresina. Contudo, o especialista comenta que em outros estados estão sendo adotadas alternativas para que as regiões centrais voltem a ser habitadas e pontua a necessidade da Capital implementar essas estratégias.

“É necessário um choque urbano, um planejamento para trazer de volta os moradores para o centro da cidade. Todos os grandes centros do Brasil estão sofrendo desse mesmo fenômeno, as populações foram afastadas para bairros bem distantes, os mais abastados foram morar em condomínios fechados e os centros das cidades ficaram abandonados. E, onde não tem o morador, ele [o Centro] é ocupado por pessoas à margem da sociedade, que passam a morar nesse espaço, então nós, acabamos nos tornando os visitantes para eles”, comenta.

Para o arquiteto e urbanista, tornar o centro de Teresina novamente residencial impulsionaria e fortaleceria a atividade econômica na região, atraindo mais empreendimentos e melhorando a qualidade de vida, não somente dos que irão morar na região, mas para os que necessitariam se deslocar até lá. Mas, para isso, conforme o especialista, é preciso investir em políticas públicas.

“Uma parte do centro deveria ser reservada para habitação de assistência social. Além disso, os órgãos públicos podem usar de projetos, como o aluguel social, fidelizando os moradores no centro, para que eles residam próximo aos seus trabalhos, privilegiando grandes empreendimentos habitacionais e promovendo qualidade de vida. Mas, para isso, era preciso rever as questões tributárias, reduzindo os impostos para quem quiser investir no centro”

Gerardo FonsecaPresidente do CAU-PI

Centro conta com variedades para os consumidores

O presidente do CAU-PI, Gerardo Fonseca, comenta que, apesar dos bairros de Teresina possuírem importantes comércios, é no Centro da cidade que a população encontra a maior variedade de produtos, serviços e preços acessíveis. Diante disso, melhorar a estrutura do centro faria com que esses comerciantes, que estão deixando de frequentar esse espaço devido à insegurança, retornaram a comprar e, consequentemente, impulsionar a economia dessa região.

“Toda atividade econômica é saudável, seja no bairro ou no centro da cidade. Acontece que, tradicionalmente, o comércio e os serviços são instalados nos centros das cidades e, em Teresina, o centro acabou sendo esvaziado por conta dos órgãos públicos. A população encontra no seu bairro aquilo que necessita imediatamente, mas é no centro que ele encontra mais opções, de escolha e preço”, comenta.

Divulgação/Ascom
Para Fonseca é preciso melhorar a estrutura do Centro

Rosário Trajano, gerente de uma loja de acessório localizada no Centro de Teresina, comenta que a região central vem sofrendo com a baixa circulação de consumidores, o que tem impactado nas vendas. Entretanto, algumas épocas do ano acabam impulsionando as vendas e, consequentemente, o aumento de clientes nas lojas. “A gente sente o centro bem esvaziado e lojas fechadas, mas, quando tem algumas datas comemorativas, como o período junino, sentimos que a movimentação dá uma aumentada. É o que faz as lojas venderem um pouco melhor”, pontua.

Consumidores pedem mais segurança no centro

Além dos comerciantes, os consumidores também sentem uma necessidade no reforço da segurança, especialmente devido ao grande número de imóveis fechados e ao aumento de pessoas em situação de rua circulando pelo centro de Teresina. O estudante Thiago Henrique Sousa comenta que o tema “assalto” é sempre o mais falado, especialmente nas paradas de ônibus.

“Quando a gente está esperando o ônibus, por exemplo, ficamos tensos, com medo de alguém nos roubar. Ficamos olhando de um lado para o outro, sempre atentos a quem se aproxima. Tanto que esse é o assunto que costumamos puxa assunto com uma pessoa ou outra que também aguarda o transporte, falando que viu um assalto, que alguém conhecido foi assaltado. A segurança deveria ser intensificada, para podermos nos sentir mais confiantes em andar pelo centro”, destaca o estudante.

Waltenir Santos, comandante da Guarda Civil Municipal de Teresina, comentou sobre o policiamento na região do Centro da capital. Ele destaca que a invasão de casas abandonadas ou fechadas reduziu devido à baixa quantidade de pessoas em situação de rua na região, uma vez que elas estão se deslocando para áreas mais extremas da cidade, como as zonas Sul, Norte e Leste

“Acredito que isso esteja acontecendo devido à presença da Guarda Municipal, especialmente nessa região do centro. Houve uma diminuição da quantidade de consumidores frequentando o centro, devido à presença de pessoas em situação de rua, mas a Guarda concentrou seus maiores esforços nessa região, justamente para trazer a população de volta e fazê-la consumir nas lojas. A Guarda está atrelada aos bens públicos do município, mas, devido ao aumento da criminalidade, damos nossa contrapartida, auxiliando também a pessoas que necessitam da nossa ajuda, pois também somos um órgão de segurança pública e estamos mais próximo da população que necessitar da nossa presença ou do policiamento mais ostensivo”, ressalta Waltenir Santos, comandante da Guarda Civil Municipal de Teresina.

Assis Fernandes/O Dia
Consumidores pedem mais segurança no Centro

Lojistas do centro migram para “zonas mais seguras”

O professor e historiador Ricardo Arraes lembra que o centro antigo, chamado Centro Histórico de Teresina, foi projetado, à época do Conselheiro Saraiva, para ser um centro residencial e administrativo da cidade. Porém, o comércio também se instalou no local. Mais de 100 anos após a fundação de Teresina, o comércio passou a ocupar a região.

“Com as enchentes que ocorreram, especialmente nos anos de 1924 e 1926, o comércio foi ganhando cada vez mais espaço no centro, onde havia residências, e essas moradias vão se distanciando cada vez mais do porto [cais do Troca-troca], chegando ao limite leste de Teresina, que basicamente era ali na Rua 24 de Janeiro. Década depois, há uma modificação, principalmente devido a algumas políticas públicas implementadas pelos governos de construção de conjuntos habitacionais, então há uma redução no número de habitantes e de residência em favor do comércio”, explica o pesquisador.

Assis Fernandes/O Dia
"Há uma migração do espaço do comércio", afirma historiador Ricardo Arraes.

Por volta dos anos de 1980, com a construção dos shoppings centers em Teresina, grande parte do comércio que vigorava no centro se muda para a zona Leste, entretanto, algumas lojas mais tradicionais continuaram na região central. “Há uma migração do espaço de comércio, especialmente, de cunho mais requintado, para zona Leste, ficando no centro as lojas mais populares. E o centro, que estava esvaziado de residências, começa também a se esvaziar de pontos comerciais. Ao migrarem [os lojistas] para a zona Leste, dá à população essa sensação de segurança, mas também uma resposta as políticas da Prefeitura, de cobrar impostos e não oferecer um retorno, como a segurança, que não existe no Centro da cidade”, conclui o professor Ricardo Arraes.

Veja mais imagens do Centro de Teresina


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