Portal O Dia

Como lidar com as crises de ansiedade e agressividade em pessoas com TEA

Pela gama e diversificação de variedades que existe, hoje se denomina o autismo como TEA (transtorno do espectro autista). Esse transtorno, embora ainda pouco discutido e diagnosticado, é mais comum do que imagina, em torno de 70 milhões de pessoas têm autismo no Brasil. Para ter uma amplitude, a diabete e o câncer, juntos, ainda são menores do que a quantidade de pessoas com TEA atualmente.

O TEA é um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, interferindo na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento. Mesmo assim, o diagnóstico precoce permite o desenvolvimento de estímulos para independência e qualidade de vida das crianças.

Mimzy/Pixabay
Como lidar com as crises de ansiedade e agressividade em pessoas com TEA

“O TEA é um transtorno global do desenvolvimento infantil, neurobiológico e genético que acontece antes dos três anos de idade. Portanto, a pessoa ela não se torna autista. Ela nasce autista”, explica a psiquiatra Daniela Mourão, especialista em TEA.

Segundo ela, o esse transtorno possui alguns sinais de alerta, como:

1 – Traços de ansiedade;

2 – TOC, repetições, obsessões por coisas específicas e a necessidade de uma rotina.

3 – Dificuldade na percepção, problemas para manter o foco e a dissociação, que pode ser caracterizada como um comportamento de distância, como se estivesse fora do ambiente presente.

4 – Dificuldade na fala e em comunicar o que sente.

Muitas vezes essas características podem passar despercebidas e as pessoas com TEA chegarem à fase adulta sem um diagnóstico adequado. Na infância, a criança com esse transtorno pode ter dificuldade na autorregulação emocional. Isso pode apresentar crises denominadas como “Melt down”, que é uma crise voltada para fora, a pessoa com autismo chora, grita, se debate, joga objetos longe.

“A birra, na criança, tem um uma motivação, que é ter aquele objeto. Quando ela consegue aquele objeto, ela para. No melt down não. Na criança com autismo, quando ela entra em crise, não consegue parar aquela crise. Ela se debate, morde, mesmo que receba o que queria. E aí a diferença, porque o alvo não é um objeto. O alvo é a crise mesmo. Ela não consegue lidar com aquele ambiente externo estressor, como um carro sem controle, ela não consegue se autorregular, voltar ao normal’’, explica a psiquiatra.

Reprodução/Freepik
Como lidar com as crises de ansiedade e agressividade em pessoas com TEA

Embora muitas vezes possa passar despercebido, as pessoas com TEA também podem desenvolver outro tipo de crise, a denominada “shutdown”, que, diferente do melt down, é uma crise silenciosa e interna, caracterizada pela paralisia.

“Essa é muito comum também em adultos. É tipo um apagão. A pessoa simplesmente dissocia. Ela entra nesse outro mundo. A gente fala que é como um computador que quer ligar, mas não consegue ligar. Então, ela fica tipo distanciada, ela fica parada, a respiração pode ficar curta, a respiração pode ficar mais acelerada. Ela simplesmente fica imóvel. O que é um perigo. Porque, por exemplo, se ela está em uma rua, se fosse um adulto ou um adolescente, não se mexe, fica lá parado. Então você tem que tirar aquela criança da situação de risco”, explica.

Mas, afinal, como lidar com as crises? Confira algumas dicas importantes:

O Transtorno do Espectro Autista também apresenta outras características relevantes que trazem um diferencial no comportamento, como, por exemplo, um hiperfoco ou a dificuldade em lidar com ambientes muito barulhentos. De acordo com Daniele Mourão, as crises podem acontecer pela falta de estereotipia, como as características citadas acima ou até uma falta de sensibilidade da pessoa, ou da família, em notar as diferenças no comportamento. Por isso, é fundamental o diagnóstico, para um tratamento adequado. Além disso, o transtorno TEA pode ser confundido com um atraso cognitivo, mas a psiquiatra explica.

“Muitas pessoas que eu tenho diagnosticado enquanto autismo adulto, elas sentem como se tivessem recebido a melhor informação possível, porque essas pessoas que tem esses traços sofrem muito, porque nunca conseguiram se adequar. Elas sempre se sentiram fora do ambiente, sempre possuíram muitas repetições, ou tem restrição alimentar, tem dificuldade de socializar. Às vezes tem de se comunicar e prefere ficar sozinha. Muitos me disseram que as vezes a bateria social acaba, está em um ambiente e simplesmente pensa que tem que voltar para casa”, destaca.

No dia 2 de Abril foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) mostram que o Brasil realizou, em 2021, 9,6 milhões de atendimentos em ambulatórios, a pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões ao público infantil com até 9 anos de idade.

O TEA não tem cura, mas o diagnóstico precoce permite o desenvolvimento de práticas para estimular a independência e a promoção de qualidade de vida e acessibilidade para essas crianças.