“A temporada de chuvas irregular terá fortes impactos para a economia”, a previsão é do climatologista Werton Costa, diretor de prevenção da defesa civil Piauí. O especialista fez uma avaliação das chuvas abaixo da média que caíram em Teresina no mês de janeiro e projetou dificuldades para os agricultores familiares do estado com o a inconstância do período chuvoso no Piauí.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), em janeiro o total de chuva na estação meteorológica automática de Teresina (PI) foi de 101,4 milímetros, o que corresponde a aproximadamente 51% abaixo da climatologia da estação convencional medida nos últimos 30 anos que é de 205,9 mm.
Em todo o mês foram registrados 10 dias com chuva igual ou superior a 1,0 milímetro. O maior total diário de chuva no mês foi de 30,2 mm, registrado no dia 03 de janeiro.
A temperatura mínima média na capital foi de 24,2°C, 1,4°C acima da climatologia da estação convencional, que é de 22,8°C. Essa temperatura mínima média é considerada a quarta maior desde a instalação da estação automática.
Se o mês de janeiro foi de escassez chuvosa, o mês de fevereiro se iniciou com fortes pancadas de chuvas atingindo diversas regiões do estado, marca da instabilidade climática como aponta Werton Costa.
Imagens de temporais no sul do estado, região historicamente mais seca, mostram a instabilidade da temporada chuvosa.
“Ela é irregular também no que tange aos volumes, chuva pouca, chuva abaixo da média. Presenciamos esse cenário na pré-temporada, em novembro e dezembro, quando todos os municípios tiveram chuva abaixo da média na pré-estação. Com a estação chuvosa que está organizada na quadra entre janeiro e abril a condição de irregularidade permaneceu. Desta vez com um contraste profundo da distribuição entre o sul e o norte do estado”, afirmou.
O responsável por esse fenômeno de acordo com o climatologista é o fenômeno do “El Niño” que tem restringe a entrada da umidade no nordeste e atrasou o início do período chuvoso.
“Já tivemos vários episódios no Piauí, a de 96 e 97, a de 2015 e 2016 que foram dramáticos para a economia e para a segurança hídrica e alimentar piauiense. O El Niño de 2023 que permanece em 2024 até abril foi mapeado como forte, porém ele está perdendo força em uma velocidade impressionante, sintoma crasso das mudanças climáticas”, destacou.
O El Niño é um evento climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Este fenômeno, de periodicidade irregular, geralmente ocorre a cada 2 a 7 anos, e pode durar até 18 meses. O El Niño é frequentemente associado a mudanças nos padrões climáticos em diversas regiões do globo.
Cerrados e Sertão mais chuvosos
O climatologista esclarece também que o fenômeno causou uma inversão no Piauí, municípios mais secos com chuvas acima da média e municípios que recebem mais chuvas abaixo do esperado.
“Esse fenômeno fez com que ocorresse algo curioso em janeiro, nós tivemos municípios Corrente, Santa Filomena, Gilbués, Paranaguá apresentando volumes chuvosos expressivos, entre 40% e 50% acima da média. Por outro lado nós tivemos municípios como Parnaíba, Luzilândia e Teresina apresentando um déficit de chuvas, uma condição abaixo da média entre 40% e 50%. Tamanho contraste mostrou a diferença entre as chuvas que caíram no sul, mais abundantes e as chuvas que caíram no norte”, afirmou.
De acordo com Werton as chuvas que caíram no sul, tanto na faixa dos cerrados quanto do sertão, vieram do Atlântico Sul, quando tradicionalmente deveriam vir do norte, do Atlântico Tropical, evidenciado a irregularidade. Para o mês de fevereiro as previsões mostram que a chuva tenderá a migrar para o norte, fechando dentro da média os scores de acumulados.
Impactos econômicos
A instabilidade e a irregularidade do período chuvoso deve causar, segundo o especialista, um forte impacto econômico, principalmente para os trabalhadores do campo.
“Para o mês de março a climatologia coloca volumes bem próximos da normalidade, de qualquer forma a temporada continuará profundamente irregular com fortes impactos para a economia, principalmente para a agricultura familiar, são esperados excelentes volumes de chuvas em algumas cidades e em alguns locais são esperados alagamentos, principalmente as cidades do baixo Parnaíba que tem confluências de várias sub-bacias, como a do longá e do Poti, por exemplo”, concluiu.