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Joe Biden: saiba o que é o declínio cognitivo e como retardar esse processo

Nas últimas semanas, o desempenho do atual presidente dos Estados Unidos Joe Biden, de 81 anos, em debates e aparições públicas, virou assunto na imprensa internacional e levou o político americano a desistir de disputar a reeleições nos EUA. Isso porque muitos passaram a se questionar se ele realmente seria capaz de liderar o país pelos próximos quatro anos, após o presidente apresentar algumas falhas de memória e dificuldades para se expressar. Segundo especialistas, o presidente parece estar passando por um processo de declínio cognitivo que tende a piorar em situações de estresse.

Assim como Joe Biden, muitos idosos passam pelo processo de declínio cognitivo, pois ele faz parte do envelhecimento de uma forma fisiológica e pode começar a acontecer a partir dos 50 anos. Segundo especialistas, o processo de envelhecimento, por si só, causa uma lentificação de sinapse, ocasionando esse declínio cognitivo, mas não deve alterar a funcionalidade e a rotina diária do idoso, a ponto de causar prejuízos em suas atividades básicas. Porém, nem todo declínio cognitivo será apenas fisiológico, ele também pode ser patológico, podendo levar o idoso a ter problemas neurocognitivos, como síndromes demenciais, vasculares, Alzheimer, Parkinson, entre outros.

Alan Santos/PR
Joe Biden: saiba o que é o declínio cognitivo e como retardar esse processo

As síndromes demenciais têm o acometimento mais tardio, a partir dos 75 anos, com processos inflamatórios e declínio cognitivo decorrente do próprio envelhecimento, além daqueles fatores relacionados à hereditariedade, familiares e genéticos.

E, diferente do que muitos pensam, é possível, sim, retardar essa perda cognitiva. A médica geriatra Joseanne Teixeira explica que a realização de atividade física, aliada a uma alimentação saudável e consultas e exames de rotinas - para controlar as comorbidades crônicas - são essenciais para diminuir as probabilidades de ter uma síndrome demencial futura. Essas práticas podem ser aplicadas durante todo o processo de envelhecimento.

“A atividade física tem muitos benefícios funcionais e cognitivos, que vão desde a memória à funcionalidade do idoso, trazendo bem-estar, qualidade de vida, musculatura e diminuição de quedas. E fazer o controle glicêmico. Se for um problema vascular, a pessoa pode fazer um controle pressórico, glicêmico, diminuindo as chances de AVC e das demências vasculares. E a alimentação precisa ser mais proteica e com menos carboidrato”, cita.

Jailson Soares/O Dia
Atividade física é essencial para prevenir o processo de declínio cognitivo

A especialista destaca que a combinação desses três fatores podem ajudar a retardar a progressão rápida de algumas síndromes, a exemplo do Alzheimer em fase inicial, que apresenta um quadro crônico progressivo. Se ações forem adotadas ainda no começo da doença, através da socialização, atividades em grupo, terapias ocupacionais e jogos que estimulam a memória, esses pacientes podem ter menos perdas cognitivas. Segundo a geriatra, muitas pessoas acham que os declínios cognitivos só estão relacionados à memória, mas também envolvem o raciocínio e comportamento. Por isso, muitos idosos têm mudanças de comportamento, pois o espectro que se manifesta já é uma alteração comportamental de uma síndrome.

Nem sempre é porque o idoso ‘ficou mais teimoso com a velhice’, essa alteração precisa ser investigada, pois esse pode ser apenas um sintomas. geralmente a família percebe mais nitidamente a perda da memória, mas a mudança comportamental também precisa de uma maior atenção

Joseanne TeixeiraMédica geriatra

E para estimular a parte cognitiva dos idosos, a recomendação de Joseanne Teixeira é utilizar jogos como forma de melhorar a memória, atenção e foco, além de terapias que mantém a rotina. Essa prática, aliás, é essencial para que os idosos criem hábitos.

Assis Fernandes/O Dia
Famílias devem ficar atentas a qualquer mudança de comportamento nos idosos

“Os idosos precisam ter uma rotina fixa, isso é muito importante, pois, quando isso é quebrado, há uma piora no comportamento do idoso com síndrome demencial. Defina horários para as rotinas, como acordar, tomar café, ouvir música, fazer uma atividade. Converse com ele, fale que dia é hoje, a hora, como está o dia, estimule com jogos de cartas, faça a socialização através de passeios e grupos com outras pessoas. Tudo isso ativa a parte das estimulações neuronais”, acrescenta, destacando outras atividades que também podem ser incluídas na rotina das pessoas idosas, como terapias e psicoterapias, exercícios, musicalização e instrumentalização”, salienta.

Arquivo pessoal
A geriatra Joseanne Teixeira recomenda que os idosos utilizem jogos como forma de melhorar a memória, atenção e foco

Diálogo é essencial para ter boa interação com idosos com quadro demencial

Alguns pacientes com declínio cognitivo tendem a apresentar alterações comportamentais, podendo comprometer a sociabilidade e até mesmo os cuidados básicos com sua saúde. Diante dessa realidade, é preciso que a família saiba administrar a situação e ofereça suporte para esse idoso.

“É preciso levar em consideração a personalidade do idoso, mas nunca vá contra ele. Criar um embate pode estimular a irritabilidade e a agressividade, comportamentos que podem desencadear pelo processo do quadro demencial. Se ele não quiser fazer algo, aceite, deixe passar alguns minutos e tente novamente. Se for um idoso mais resistente, isso diminui quando se cria uma rotina, pois ele entende que aquela atividade faz parte do dia a dia dele e acaba sendo bem aceita, ou invés de sentir que está sendo tirado do seu conforto do seu ambiente. É preciso conversar e ter paciência”, complementa a médica geriatra Joseanne Teixeira.

Família deve incentivar atividades que melhorem o cognitivo

As coisas que a aposentada Neroeme Lemos de Souza, de 79 anos, mais gosta de fazer é bordar e jogar paciência no celular. Muito prendada, ela borda toalhas e colchas de cama, adora dançar, dormir, conversar com outras pessoas e ir para shows. “Gosto de jogos de cartas no celular, de ter contato com a natureza e bordar. Me sinto bem fazendo isso”, conta.

Arquivo pessoal
Neroeme Lemos de Souza, de 79 anos, gosta de bordar e jogar paciência no celular

A servidora pública Valdineia Lemos de Sousa, filha da dona Neroeme, está sempre preocupada com manter a mente da mãe sempre ativa, principalmente agora que ela começa a apresentar sinais de esquecimento. Para isso, ela incentiva a leitura, jogos com cartas e os bordados que tanto a dona Neroeme gosta de fazer.

“Tento fazer o máximo para que ela tenha uma vida mais ativa. Me preocupa ela ficar muito tempo no celular, pois ela já está tendo esquecimentos. Minha mãe era muito ativa quando mais nova e, agora que está mais parada, fica ociosa e acaba mexendo muito no celular. Então, para evitar isso, eu compro materiais como linhas de bordado, tecido, fitas e caças-palavras para poder desopilar e não ficar tanto tempo no celular. Além disso, levo ela para fazer caminhada, passear no shopping, no Parque da Cidadania, e visitar os amigos, para que ela possa interagir com outras pessoas”, comenta.

Centros de convivência ajudam na Centros de convivência ajudam na socialização e melhora qualidade de vida

Os centros de convivência possuem uma importância significativa na vida da população que é atendida, especialmente os idosos. O Centro de Valorização da Pessoa Idosa estimula o envelhecimento ativo e com qualidade de vida, realiza diversas atividades lúdicas, como dança, ginástica laboral, aquecimento, em dupla e em grupo, e que auxiliam no desenvolvimento do sistema nervoso refinado e melhoram o equilíbrio, como encaixe de peças, oficinas de artesanato e pintura. No local também são realizadas rodas de conversas, capoterapia e oficina de informática, com o objetivo de inclusão digital.

Divulgação
Centros de convivência ajudam na Centros de convivência ajudam na socialização e melhora qualidade de vida

Para ter acesso aos serviços do centro de convivência, é preciso que os idosos ou seus familiares busquem o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que é a referência e porta de entrada. Os CRAS funcionam todos os dias e possuem atividades voltadas para o fortalecimento do lazer e do esporte. Atualmente, mais de três mil idosos são atendidos pelo serviço em todas as zonas de Teresina.

O Centro de Convivência Jatobá atende especificamente pessoas idosas em situação de vulnerabilidade. Eduardo Aguiar, coordenador do Centro Dia, explica que as atividades desenvolvidas no centro visam estimular o envelhecimento ativo e com qualidade de vida. No local, são atendidos idoso com todos os tipos de fragilidade e, com eles, são trabalhadas atividades diversas, tanto lúdicas como aquelas praticadas na rotina diária.

“As atividades físicas são muito prazerosas para eles. Temos uma diferenciação das atividades da vida diária, como tomar banho, escovar os dentes, beber água, pois muitos vão esquecendo com o tempo, devido ao isolamento social ou por não terem mais o ânimo de antes. Realizar essas atividades faz com que eles se sintam melhor, com mais qualidade de vida, começam a se alimentar melhor, melhora a sociabilidade, a afetividade e a amizade entre eles e a equipe”, comenta.

Eduardo Aguiar comenta que muitos idosos acabam se isolando da família por acharem que estão sendo cobrados, quando, na verdade, esses familiares estão apenas cuidando buscando maneiras de cuidar da sua saúde. Nesse sentido, o Centro de Convivência é importante pois é no local que os idosos podem conhecer novas pessoas e também se sentir empoderados.

Geici Mello/O Dia
Frequentar centros de convivência pode fazer com que os idosos não se sintam isolados

“Alguns idosos chegam no Centro usando muletas e bengalas como auxílio e, elas acabam ficando secundária porque eles vão se restabelecendo e tendo o equilíbrio fortalecido, e esse idoso começa a ter um outro pensamento. Quando tem atividades que toda a família é convidada para assistir as apresentações, os idosos se sentem orgulhosos com a família tirando foto, eles cantam, dançam e se sentem confortáveis mostrando que ali é um lugar bom e confiável”, reforça Eduardo Aguiar.

O coordenador reforça que é possível encontrar Centros de Convivência e grupos de acolhimento para idosos em todas as zonas de Teresina, que costumam estar presentes em associações, ambientes de igreja, praças, entre outros. Na zona Sul, há o Centro de Convivência Jatobá, localizado na Avenida Jatobá Nº 2199, que fica localizado no Residencial Jatobá, bairro Angelim.


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