Nesta terça-feira (31), é comemorado o Dia das Bruxas, também conhecido como Halloween. Não é novidade que a figura da bruxa permeia o imaginário popular há séculos. A imagem assustadora de uma mulher velha com verrugas, com chapéu pontiagudo e roupas pretas, faz parte de um dos arquétipos mais conhecidos.
Muitos são os contos que falam sobre como as bruxas antigas faziam feitiços para matar criancinhas ou destruir casamentos, mas, nem de longe, esses contos falam sobre o real motivo dessas mulheres terem sido perseguidas ao longo da história, sobre os seus conhecimentos ancestrais e a subversão dos papéis femininos na Idade Média.
No cenário contemporâneo, longe dos estereótipos caricatos do passado, surge a Bruxa Moderna, uma mulher que abraça práticas místicas através de rituais na lua cheia, tiragem de tarot e uso de cristais como forma de transcender o folclore e se tornar uma expressão do empoderamento feminino.
Apesar de atual, a bruxaria contemporânea é inspirada nos rituais tradicionais, que levavam em consideração os ciclos da natureza, os antigos deuses, a cura através das plantas e os oráculos. Em entrevista ao Jornal O DIA, a socióloga Catarine Guimarães explica que a bruxaria não é uma religião, mas uma doutrina que engloba diversas vertentes de estudos. Dentre elas, a bruxaria natural.
A socióloga lembra que as bruxas eram mulheres vistas como ameaças à ordem social. Indomáveis e insubmissas, elas se recusavam a se conformar com as normas sociais da época. “Eram mulheres discriminadas que estudavam as propriedades das ervas e buscavam formas de cura em uma época em que doenças eram atribuídas à vontade divina. Muitas não se casavam aos 11 anos de idade, muitas estudavam escondidas porque era proibido. Infelizmente, milhares destas mulheres, cientistas, curiosas e donas de si, foram queimadas na fogueira”, aponta.
Hoje, muitas mulheres se consideram bruxas modernas, inclusive a própria Catarine, que através da busca por novas formas de manifestar a sua espiritualidade, se conectou com a bruxaria natural. Criada por uma família católica, a socióloga sempre se questionou sobre a integração com a natureza. Para ela, Deus escreveu seus ensinamentos não em livros, mas na natureza.
“Olhar a natureza sempre me ensinou: a vida tem ciclos, o sol amanhece nos mostrando que todo dia temos oportunidades de mudar, a lua me lembra que sou mulher e cíclica, rege nossas águas interiores e as marés, rege meu ciclo menstrual. Então, comecei a buscar formas de manifestar a espiritualidade conectadas aos ciclos da natureza, honrando a natureza como sagrada e grande mestra”, conta.
As bruxas modernas são mulheres pioneiras, empoderadas e estudiosas. Elas abraçam uma variedade de questões, desde feminismo a maternidade e liberdade sexual. Todas essas mulheres, sejam curandeiras, parteiras, espiritualistas ou terapeutas, carregam consigo a herança das bruxas do passado, desafiando as normas e ideias pré-estabelecidas na sociedade.
Através de incensos, banho de ervas, rituais de banimento e prosperidade, as bruxas modernas praticam suas magias diariamente. “Tenho um altar, faço respirações e visualizações onde me vejo em conexão e equilíbrio com o fluxo da vida, o cosmo. Cérebro rituais nas fases da lua, cada fase representando um propósito, como a lua nova para emanar ao universo aquilo que desejo manifestar; a lua crescente para prosperidade e saúde; a lua cheia para agradecer e a lua minguante para finalizar ciclos”, acrescenta a socióloga.
Misticismo e o equilíbrio das energias
O misticismo não é um elemento específico da bruxaria e pode ser também uma crença de quem busca equilíbrio com o cosmo. Pela definição, o misticismo crê na existência de uma energia sobrenatural e misteriosa, pela qual se acessa o divino. Para os místicos, essa crença está intrinsecamente ligada às energias e aos elementos da natureza.
Apesar de não se considerar uma bruxa, a jornalista Flávia Bacelar se considera uma pessoa mística e tenta adotar rituais para trazer prosperidade para a sua vida. Para ela, tudo está ligado à energia e, para isso, é preciso mentalizar abundância e fartura, e o universo mandará de volta essas energias com a mesma intensidade com a qual se desejou.
Buscando esse equilíbrio, a jornalista adota, todos os meses, um ritual próprio para atrair energias positivas para o seu lar e para a sua vida. Baseado no Feng Shui, uma prática antiga chinesa que tem o objetivo de eliminar as energias negativas dos ambientes e trazer equilíbrio e harmonia, o ritual da canela consiste em soprar a canela de fora para dentro da casa nas primeiras 24 horas do primeiro dia do mês, acreditando que, assim, trará energias positivas.
“Você sopra a canela em pó, na porta de casa, de fora para dentro. Enquanto sopra deve mentalizar prosperidade, abundância, e pensar que isso irá adentrar na sua casa junto com o pó. Deixa que o pó da canela fique no chão e, após 24 horas, você pode varrer a casa normalmente. É preciso dizer que: ‘Quando essa canela soprar, a prosperidade aqui irá adentrar’, assim estará trazendo como vento a energia que você está emanando”, explica.
A jornalista também acredita que os incensos podem atuar para fazer a limpeza energética do lar. Por isso, também usa esses elementos para atrair coisas boas e se blindar de energias negativas ou maléficas. A fumaça do incenso é um elemento espiritual etéreo, por onde as energias, informações e pensamentos espirituais transitam.