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Igreja da Vermelha, templo de preservação do patrimônio piauiense

A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, popularmente conhecida como Igreja da Vermelha, localizada no bairro Vermelha, zona Sul de Teresina, foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no dia 11 de novembro de 2024. O tombamento definitivo garante a proteção de seus bens, que vão além da estrutura. O local, que marca a história dos teresinenses, também é um templo de preservação de outro patrimônio de grande magnitude, a Arte Santeira em Madeira do Piauí, que também recebeu o registro. Essa foi a primeira vez que o Instituto registrou, simultaneamente, um bem imaterial e o tombamento de uma edificação e seu acervo.

Construída entre 1960 e 1970, a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes buscava a proximidade entre a Igreja Católica e a população local. Um espaço simples, mas que possui em sua estrutura vários elementos que reforçam a fé, especialmente com a presença de expressões culturais santeiras. As principais peças foram esculpidas por Mestre Dezinho e Expedito, convidados pelo pároco local, à época, Francisco Carvalho, para expressarem essa devoção através da arte santeira em madeira, uma grande referência cultural popular do Estado.

Francisco Moreira/CNFCP
Igreja da Vermelha, templo de preservação do patrimônio piauiense

“O padre Carvalho, quando iniciou a Igreja, queria que o local fosse uma oficina das almas. Há moradores que relatam que seus avós ajudaram na construção da igreja, ou pessoas que serviram de inspiração quando foram esculpir Nossa Senhora. Foi aqui que nasceu essa maneira de expressar a fé com a arte santeira, e agora isso está sendo preservado”, explica o Padre Antônio Cruz, pároco da Igreja da Vermelha.

Daniel Oliveira, antropólogo do Iphan, conta que, a partir de agora, com o tombamento da Igreja e seu acervo, será possível proteger esse importante patrimônio nacional. Ele comenta que esse trabalho já vinha sendo feito pela própria população do bairro, visando resguardar a memória da comunidade que cresceu e se formou ao redor da igreja. E foram essas mesmas pessoas que tomaram iniciativa para que o tombamento pelo Iphan acontecesse.

“A população fez o pedido para que o Iphan fizesse o tombamento da Igreja e, junto a isso, fizemos também o reconhecimento santeiro, que é outro processo, de reconhecimento dos bens materiais. Agora, o Iphan passa a proteger esses dois importantes bens. Vamos acompanhar, monitorar e fiscalizar, com a comunidade, para ajudar a protegê-los, de uma forma que as pessoas possam fazer suas visitações, realizar seus rituais de casamento e batizado, tudo isso tendo como cenário esse acervo protegido que é, agora, considerado Patrimônio Cultural do Brasil”, destaca Daniel Oliveira.

Jailson Soares/ODIA
Na Paróquia há peças de artistas como Mestre Dezinho e Expedito e Afrânio Castelo Branco

É na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes que estão algumas das obras de Mestre Dezinho, grande referência e propulsor da arte santeira no Piauí. Sete peças foram esculpidas por ele, e que estão dentro da proteção do Iphan, como o Cristo, a pia batismal, Santa Bernadete, os anjos, o altar e Nossa Senhora de Lourdes. Mas também há obras do Mestre Expedito, que retratam a via-sacra, e uma pintura do artista plástico Afrânio Castelo Branco. Todas as peças foram incluídas dentro do tombamento.

O professor e historiador Ricardo Arraes reforça a importância do registro desses dois patrimônios para a preservação da história e da cultura piauiense. Segundo o pesquisador, a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes possui um acervo riquíssimo e uma arquitetura com características peculiares.

Uma joia da arquitetura e arte santeira do Piauí

“A Igreja da Vermelha é totalmente diferenciada das demais, começando pela fachada e pelo piso preto, bruto. Além disso, ela é um grande vão, que termina no altar. Tem também um painel atrás do altar e os santos em madeira. São pontos que merecem destaque e foram pensados pelo padre Carvalho, pároco que deu início à construção da igreja”, comenta.

As obras foram feitas por artistas piauienses, a convite do padre Carvalho, cada um com sua especificidade. “O painel que fica atrás do altar é repleto de anjos e querubins e foi pintado pelo artista plástico Afrânio Castelo Branco. O outro diferencial são os santos, esse é o principal destaque e uma das coisas mais maravilhosas da Igreja. Todos são feitos em madeira maciça e foram entalhados por Mestre Dezinho ali mesmo na igreja, onde foi construído seu estúdio. As feições dos santos são todas iguais, uma característica da sua obra. E o Mestre Expedito também deu sua colaboração para a formação desse acervo santeiro. Ou seja, essa Igreja é uma joia da arquitetura, da arte santeira e da pintura”, conclui o professor e historiador Ricardo Arraes. 


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